Fonte Nova, é necessário demolir?


O Estádio da Fonte Nova

A Faculdade de Arquitetura da UFBA através da sua diretoria e professores vem de público manifestar a sua posição diante dos fatos relacionados com o Estádio Otávio Mangabeira mais conhecido como “Fonte Nova”, declarando inicialmente sua total solidariedade às famílias atingidas pela tragédia ocorrida em 25/11/2007, em que ressaltam os aspectos humanos envolvidos e o direito objetivo quanto à responsabilidade do Estado.

Quanto ao destino pretendido pelo poder público em relação à Fonte Nova, manifesta sua estranheza quanto à decisão unilateral de implodir o Estádio sem uma avaliação técnica - competente, isenta e responsável - sobre as condições de estabilidade da estrutura e suas possibilidades de restauração.

O complexo esportivo da Fonte Nova na lavra de Mário Leal Ferreira nunca se limitou ao futebol e, desde sua origem, com a criação do DEEF (hoje SUDESB) abriga um programa social que transcende os objetivos comerciais e os interesses privados ligados à copa do mundo de 2014.

A este aspecto, alia-se o fato desta principal praça esportiva do Norte e Nordeste ser um marco visual importante para a cidade do Salvador, cristalizando um lugar significativo no entorno de um sítio histórico e de monumentos tombados, que não pode ser suprimido face à legislação federal em vigor. Projeto do Arquiteto Diógenes Rebouças, Professor Emérito da UFBA e Titular da Faculdade de Arquitetura, a Fonte Nova, construída nos anos 50 do século XX, é exemplar expressivo da arquitetura moderna na Bahia e patrimônio arquitetônico e urbano relevante. Sua concepção contou com a contribuição do escritório de Oscar Niemeyer, e a ela se referiu elogiosamente o urbanista Lúcio Costa, em parecer como membro do IPHAN, enfatizando sua implantação e sua integração com o Dique do Tororó, hoje um sítio tombado.

Conclui-se então que a decisão de implosão, anunciada antes mesmo dos resultados de uma perícia técnica estrutural e de uma análise urbanística e sócio econômica, constitui uma ação precipitada que não encontra justificativa, haja vista que, em várias partes do mundo e do Brasil, estádios são recuperados dentro das exigências técnicas próprias da contemporaneidade, continuando assim a cumprir seu papel social.


Salvador 03.12.2007


Profª. Solange Souza Araújo

Diretora da Faculdade de Arquitetura da Bahia

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